Os loucos pisam templos imaginários
seus passos baços traçam outros itinerários
não têm noite nem dia, não reclamam horários.
Os seus bolsos são relicários de tesouros irreais...
Os seus sentidos pressentem segredos
ressuscitam quimeras, embarcam à vida na estação pineal.
Os loucos buscam o Graal o canto maternal a poesia e os hinos
e vão em suas carroças tecendo destinos.
Os loucos não são letais...são poucos, mas são leais.
São loucos, não cabotinos...
Por fim, numa nuvem-lã , alcançam o amanhã...
(insanamente inspirado por um poema de Rubenio Marcelo)
Que visão terão os loucos sobre o mundo, os bobos que povoam a corte moderna?
(é verdade, sou artista em Portugal, supostamente não trabalho, as coisas surgem do éter...por isso rumino os dias com questões pertinentes como esta)
Como será a sua percepção das cores, das texturas das casas, dos sons do contexto do nosso quotidiano, das nossas acções e da nossa forma de comunicação. como seria sentarmo-nos numa dessas praças e olharmo-nos através dos seus olhos.
Neste magistral tabuleiro humano quem serão de facto os loucos?
Assim sendo e partindo do curso de expressão plástica e teatral, com a ajuda e imensa dedicação de um punhado de D.Quixotes, loucos por aceitarem acordar do monocordico quotidiano português, recriámos o micro universo de uma das praças de uma qualquer cidade.
O resultado é uma experiência enriquecedora em termos humanos, pelo desafio que lança tanto a eles quanto a mim de desconstruir a percepção do mundo e de comunicar por outras formas que não as do senso comum. Orgulho-me imensamente deles pela forma como aceitaram o desafio de um regresso à emoção em prol da razão.
Erguemos assim uma galeria de vidas, um microuniverso do global, um ensaio descomprometido sobre a condição humana. O resultado é o que vos damos a ver de seguida.
Em conclusão e citando as palavras do oraculo de Dodona, "Não contes a ninguém o que viste, fica-te pelas imagens"
João V. Fino
